Nesta série iremos explicar algumas das táticas utilizadas no futebol americano para que você possa conhecer mais detalhadamente como o esporte funciona e como ler as jogadas que ocorrem no campo.
Era Pré Coryell
Historicamente o Air Coryell é um esquema ofensivo que foi desenvolvido por Don Coryell, então treinador do San Diego Chargers. Antes dele, porém, as equipes usavam o Pro Set Formation e o Estilo Grind-It-Out (que explicaremos em outro texto) nas quais basicamente os jogadores do ataque usavam um play-action falso, enganando a defesa sobre um jogo corrido, quando na verdade o objetivo era um passe profundo.
Esse estilo de jogo utilizava basicamente: 1 Tight End, 2 Wide Receivers, 1 Halfback e 1 Fullback.
Contudo, em 1978, surgiu a regra de Mel Blount que minimizou o contato dos defensores com os recebedores. Essa regra, conhecida como contato ilegal no campo, determina que os defensive backs só podem fazer contato com os recebedores dentro das cinco jardas da linha de scrimmage.
Com isso, o estilo de jogo do Pro Set Formation acabou por ser prejudicado, já que os recebedores poderiam ser marcados muito antes no campo.
Air Coryell ou West Coast Offense?
Originalmente, o ataque de Coryell era conhecido como o West Coast Offense até que um artigo sobre o treinador do San Francisco 49ers, Bill Walsh, na Sports Illustrated no início dos anos 80, chamou incorretamente o ataque de Walsh de "o ataque da Costa Oeste", e essa rotulagem incorreta ficou.
Posteriormente, o esquema ofensivo de Coryell foi referido como "Air Coryell" - o nome que os locutores tinham atribuído aos seus ataques de alta potência dos Chargers em San Diego.
Movimento e mais movimento
Em 1979, Don Coryell mudou-se para San Diego e fez com que os Chargers chegassem aos playoffs por quatro temporadas consecutivas (1979-1982), ganhando três títulos da divisão e fazendo com que o time fosse o primeiro campeão da AFC Oeste a ter mais jogadas de passe do que de corrida.
Mas o principal é entender como o ataque de Coryell funciona.
Wide Receivers
Nesta técnica os recebedores estão sempre (ou quase sempre!) em movimento, uma vez que com a regra de Mel Blount, a mobilidade dos recebedores faria com que eles fossem virtualmente impossíveis de serem bloqueados.
Porém, engana-se quem pensa que apenas os wide receivers seriam movimentados. Coryell também fez com que os tight ends e os running backs se movimentassem igualmente.
Outra característica dessa técnica é que os passes são lançados antes mesmo que o recebedor chegue ao local da recepção, impedindo que os defensores saibam exatamente para onde o passe está direcionado. E cada receptor tem duas ou três opções de rotas diferentes que podem ser facilmente ajustadas conforme a cobertura apresentada pela defesa.
Basicamente, o playbook do ataque não tinha formações definidas, uma vez que os recebedores poderiam se alinhar em qualquer lugar quando a jogada fosse de passe.
Quarterback
A vantagem disso tudo é: ao se colocar todas as opções em movimento, permite-se que o quarterback determine no pré-snap o que ele irá fazer, considerando a leitura que for feita da defesa, seja uma marcação por zona ou homem-a-homem.
Com isso, fica mais fácil para o quarterback ler a cobertura da defesa antes do snap, do que em uma situação de pressão do pass rush. Além disso, é mais difícil para um defensor cobrir o recebedor que está constantemente mudando de direção, ao invés de se posicionar antes do snap, fazendo com que algumas defesas reajam ao movimento de forma confusa e deixem um defensor em posição errada, facilitando assim o passe.
Resumindo, o Air Coryell requer que o jogo de passes seja baseado em tempo e ritmo, exigindo muito treinamento de repetição por parte dos jogadores.
Tight Ends
Anteriormente, os jogadores dessa posição eram principalmente bloqueadores alinhados ao lado de um recebedor e que corriam apenas rotas curtas ou médicas.
Don Coryell introduziu o que se conhece como tight end móvel, que corre rotas de wide receivers, com rotas mais longas e principalmente contra conerbacks menores, tendo assim uma vantagem física sobre o jogador defensivo.
Diante desse dilema, as defesas muitas vezes tinham que se adequar colocando outro defensor para ajudar na cobertura desse tight end e consequentemente abrindo buracos na defesa que poderiam ser facilmente explorados pelo quarterback, como por exemplo o jogo corrido.
Um exemplo desse estilo de jogo na atualidade é Rob Gronkowski, um grande pegador de passes que se alinha em todos os lugares e se encaixa perfeitamente no rótulo de "coringa" que muitas vezes é dado a esses tipos de atletas.
Passes médios a longos e forte jogo terrestre
A ofensiva de Coryell se baseia em colocar todos os cinco recebedores em posições combinadas que acabam por esticar o campo, com diversas técnicas de rotas e fazendo com que o quarterback lance a bola para um ponto futuro, onde o recebedor fará a recepção, se virará e seguirá subindo o campo.
"Os jogadores, eu apenas tento encaixar meu ataque nos jogadores que tenho." - Dom Coryell
Porém o calcanhar de Aquiles desse estilo de jogo é a necessidade de proteção do passe, afinal, pelo menos dois dos cinco recebedores farão uma rota de moderada a profunda e com isso será necessária um pocket mais denso para proteger o quarterback enquanto ele faz a leitura e realiza o passe.
A ofensiva Coryell usa três armas principais, que podem usar usadas isoladamente ou conjuntamente:
Jogo terrestre interno forte;
Ataques profundos com dois ou mais recebedores; e,
Grande quantidade de passes de médio alcance para tigh ends, wide receivers ou mesmo para trás.
Simplificadamente, para que esse tipo de ataque seja eficiente o time deve ter pelo menos dois wide receivers no campo, rápidos e que se ajustem muito bem ao passe profundo, combinados com um quarterback robusto e com um braço forte.
Evolução do Air Coryell
A partir de 2022, a maioria dos jogos de passes da NFL são baseados, pelo menos parcialmente, nas convenções de Coryell.
Essa ofensiva fez principalmente com que o jogo da defesa tivesse que evoluir, ou seja, usando vários receptores, força-se as defesas a contra-atacar com diferentes formas. Como resultado, mais defensive backs foram convocados e linebackers que também poderiam cobrir os receptores internos foram procurados.
As defesas foram ajustadas para o estilo Nickel e Dime em resposta à esse formação ofensiva.
Por Daniela Germano
Fotos: Reprodução Freepik e Bleacher Report
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