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Desvendando o Playbook - West Coast Offense

Nesta série iremos explicar algumas das táticas utilizadas no futebol americano para que você possa conhecer mais detalhadamente como o esporte funciona e como ler as jogadas que ocorrem no campo.

Para começo de conversa, vamos explicar um pouco sobre a origem desse sistema.


Foi criado por Bill Walsh, que trabalhou como coach de quarterbacks no Cincinnati Bengals e depois como head coach do San Francisco 49ers. A curiosidade, na verdade, reside sobre como esse sistema surgiu.


Reza a lenda que em 1985, quando os Giants derrotaram os 49ers nos playoffs, o técnico de Nova York, Bill Parcells, adepto do sistema "old school" em que o futebol era orientado para a defesa do jogo corrido, ridicularizou o ataque dos 49ers, dizendo que um ataque orientado com passes frequentes e de alta porcentagem de acertos não seria o mais eficaz.


Por mais que Walsh não quisesse que seu sistema ofensivo tivesse esse apelido, obviamente o termo se tornou comumente associado a uma série de ataques orientados pelos passes, que não necessariamente estão relacionadas com o sistema Air Coryell (iremos falar sobre ele na série).



Mas você deve estar se perguntando: sobre o que se baseia o sistema West Coast Offense? Bom vamos partir para a análise tática.


Old School vs West Coast Offense (WCO)


Ao ter que trabalhar com o quarterback Virgil Carter, nos Bengals, Walsh precisou criar um sistema baseado em passes curtos e de alta porcentagem, haja vista que seu jogador tinha uma braço preciso, porém relativamente fraco. Esse estilo, por sua vez, compensa qualquer fraqueza de braço do quarterback, favorecendo passes diretos entre 10 e 15 jardas, ao invés de big plays de 40 a 50 jardas.


O sistema permite que a bola seja lançada para rotas curtas ou intermediárias, na qual recebedores com capacidade de corrida compensem conquistando jardas após a recepção.


Em uma análise mais aprofundada vamos fazer um comparativo entre o jogo ofensivo tradicional e a West Coast Offense:

Old School

West Coast Offense

Prioriza o jogo corrido

Prioriza os passes precisos

Atrai a defesa para liberar faixas verticais no campo

Alonga a defesa com passes horizontais

Passes longos de 40 a 50 jardas

Passes curtos e intermediários de 10 a 15 jardas

Basicamente a WCO depende da precisão nos passes e não na sua força, bem como dos recebedores, que compõem cerca de 65% a 80% do esquema ofensivo. Afinal, com a defesa estendida horizontalmente, o recebedor fica livre para ganhar as jardas restantes com corridas médias a longas.


Diante da dependência dos recebedores, é preferível que estes sejam fortes, capazes de quebrar tackles, especialmente quando estão abrindo a defesa correndo na horizontal para, após a recepção, mudar de direção e seguir na vertical para ganhar jardas depois de receber a bola.


Princípios básicos


A West Coast Offense busca abrir espaços no campo para corrida e passe, para que os quarterbacks e os recebedores possam explorá-los, fazendo com que a defesa se concentre em passes curtos. Mas ainda assim o jogo fica imprevisível, pois a defesa ao saber que o sistema visa passes curtos pode ser facilmente confundida com um jogo corrido, forçando os defensores a estarem preparados para infinitas jogadas possíveis, ao invés de focarem agressivamente em uma única jogada do ataque.


Basicamente, além do princípio básico de passe curto e corrida, a West Coast Offense utiliza de um alinhamento desigual em que cinco jogadores ficam de um lado da bola e quatro do outro lado (com o center e o quarterback diretamente atrás da bola). Esse desequilíbrio força a defesa a mudar suas formações padrões.


Outro princípio importante dessa tática, é a de "PASSAR PRIMEIRO, CORRER DEPOIS", assim o time busca uma vantagem inicial ao passar a bola e no final do jogo executar corridas em uma defesa já cansada, desgastando-a ainda mais e fazendo o tempo do relógio correr.


Mais um elemento interessante do ataque de Walsh foi o dropback de três etapas. Ao contrário da maioria que usava Seven Step Drops ou formações Shotgun, o Tree Step Drop ajuda o quarterback a soltar a bola mais rapidamente, gerando muito menos sacks.


Explicando mais detalhadamente, o quarterback faz três leituras de seus recebedores e se nenhuma for possível, ele irá fazer o passe para um tight end. Atualmente, a West Coast Offense também implementou dropbacks de 5 e 7 etapas, uma vez que a velocidade da defesa aumentou exponencialmente desde os anos 80.


Alguns adeptos da WCO, como Green Bay Packers e Atlanta Falcons, utilizam inclusive formações shotgun.


Jogadas Típicas


A maioria das rotas ocorrem dentro das 15 jardas da linha de scrimmage. Os dropbacks de 3 e 5 etapas substituem a corrida e forçam a defesa a focar apenas em rotas intermediárias. Já os dropbacks de 7 passos são utilizados raramente para cruzamentos rasos ou passes profundos.


Outro aspecto que torna a WCO uma das ofensivas mais difíceis de se dominar é que ela exige uma conexão profunda entre o quarterback e recebedores, bem como a capacidade de se comunicarem no meio do jogo.



Em qualquer rota, o recebedor terá 3 opções: hitch, slant ou fly, a depender do que a defesa mostrar no pré snap.


Uma rota hitch, curl ou hook é aquela em que o recebedor, fazendo a rota fly, para rapidamente e se vira para receber o passe. Isso é eficiente quando o cornerback ou o safety não são rápidos o suficiente para parar e defender o passe.


Já a rota slant ocorre quando o recebedor sobe o campo em um ângulo de aproximadamente 45 graus, indo para a lacuna existente entre os linebackers e os jogadores da linha defensiva.



Por fim a rota fly também chamada de straight, vertical, streak ou go route, é um padrão executado pelo recebedor em que ele corre direto no campo para a endzone. O objetivo é passar rapidamente por qualquer defensor, pegando um passe intermediário ou longo, e correndo para marcar o touchdown. Também utilizado para liberar espaço para outros recebedores, pois chamará atenção do cornerback e forçando uma ajuda do safety na cobertura, criando uma lacuna para o outro recebedor. Essa é a famosa rota usada na Hail Mary.


O quarterback é o responsável por ler a defesa e a reação do recebedor e assim ajustar a rota antes do snap ser feito, por isso é muito comum ver mais erros de comunicação entre quarterback e recebedor no sistema West Coast Offense do que em comparação com os demais.


Roteiro das Jogadas


Walsh percebeu que os jogadores executavam com precisão apenas as 15 primeiras jogadas ofensivas, não importando o que acontecesse. Assim, ele implementou as Scripted Plays, ou seja, não importa a situação do jogo, as primeiras 15 jogadas devem ser executadas como treinadas, aumentando assim o ritmo do jogo, servindo para confundir a defesa e induzir penalidades por parte do time adversário.


A execução perfeita dessas jogadas estabelece um impulso de jogo, fazendo com que o time dite o fluxo da partida, fazendo com que várias falhas das defesas fossem analisadas e exploradas.


Vantagens e Desvantagens


A WCO exige um quarterback extremamente preciso e que suporte bem a pressão no pocket. Outro requisito é que esse quarterback seja capaz de decidir rapidamente para qual recebedor irá lançar, inclusive existindo situações em que o jogador simplesmente executa a jogada de forma robótica, diante da velocidade da chamada.


O ataque da Costa Oeste causou uma divisão ainda evidente entre os quarterbacks: aqueles que eram mais adeptos a esse estilo como Joe Montana, Steve Young, Brett Favre, Tom Brady e Matt Hasselbeck; e os mais afinados com o estilo antigo como Dan Marino, Jim Kelly e Peyton Manning. Rich Gannon é um bom exemplo de um quarterback que se saiu melhor em um sistema do que no outro. Gannon lutou no sistema de estilo antigo, mas obteve grande sucesso com os Raiders e o sistema da Costa Oeste dirigido pelos treinadores Jon Gruden e Bill Callahan.


Outro ponto é que a West Coast Offense exige recebedores de mãos firmes e que sejam fortes para aguentar o tráfego pesado que irão enfrentar na defesa do time adversário. Esse sistema ajuda na longevidade dos seus recebedores no time, como por exemplo Jerry Rice, pois a familiaridade e a fácil comunicação com o quarterback são mais importantes do que nos sistemas que dependem exclusivamente de um recebedor que "estique o campo" em que qualquer perda de velocidade vira um problema significativo.


Quanto aos running backs o sistema também exige que eles sejam ágeis e que recebam bem tanto quanto correm. Roger Craig foi um exemplo dessa ofensiva dos 49ers tendo recordes de 1.000 jardas corridas e 1.000 jardas recebidas na temporada de 1985.


Mais um exemplo que se pode retirar do WCO são os running quarterbacks, que em situações de blitz ou short-yardage podem compensar uma defesa que bloqueia eficazmente as rotas de corrida ou passe. Nessa função, o quarterback age como corredor, paralisando a defesa. Isso foi muito visto com os jogadores Randall Cunningham e Michael Vick, e atualmente com Aaron Rodgers e Russel Wilson.


Os times atuais que utilizam esse sistema são: Buffalo Bills, San Francisco 49ers, Los Angeles Rams e Green Bay Packers.


Resumindo, a West Coast Offense torna seus jogadores precisos, com rotas indecifráveis, meticulosos e inteligentes, em oposição à improvisação dos demais sistemas, fazendo com que seus jogadores sejam mais valorizados.


Por Daniela Germano


Fotos: Reprodução Freepik, Google e Wikipedia








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