top of page

A maldição do Draft - Supervalorização dos prospectos e a eficiência do mercado

Atualizado: 20 de abr. de 2022

mercado econômico atual tem como base as expectativas racionais e a eficiência e o maior inimigo desses princípios é a falta de dados.

A cada ano a National Football League realiza o Draft em que os times se revezam na seleção de jogadores com interesse em atuar na liga. Com isso, um time que se utiliza da sua escolha para selecionar um jogador, está implicitamente prevendo que ele terá um bom desempenho. Ou até mesmo poderá usar o valor de marcado do jogador, que será possivelmente escolhido na sua vez, para fazer trocas de escolhas com outros times.


Para deixar clara a ideia vou exemplificar com o destaque do Draft de 2004. O San Diego Chargers, na época, tinha a primeira escolha para selecionar Eli Manning, um quarterback famoso por ser filho do ex-jogador Archie Manning e irmão do então quarterback dos Colts, Peyton Manning. O New York Giants por sua vez estava com a 4ª escolha e precisa urgentemente de um quarterback, tendo deixado claro que Manning era sua melhor chance.


Durante o tempo de escolha dos Chargers, o time de New York sofreu um dilema: fazer a troca com os Chargers para selecionar Eli ou oferecer ao Cleveland Browns uma troca para descer para a 7ª escolha, escolhendo Ben Roethelisberger, e, com a subida dos Browns, ganhar a 37ª escolha do draft 2004?


Contudo, o preço de upgrade era grande demais para os Giants, afinal teriam que oferecer a 65ª escolha do draft de 2004 e ainda uma escolha de primeira e quinta rodada de 2005.

Philip Rivers e Eli Manning

Giants, por fim, escolheram pegar Philip Rivers, segundo melhor prospecto da posição, e logo em seguida trocar de jogador, ficando Manning com os Giants e Rivers com os Chargers.


Vemos que resumidamente, Manning valia 4 escolhas mais caro do que Roethelisberger.


A conclusão dessa análise é que o preço do mercado do draft para subir é alto. Porém, o quão alto é esse preço?


Historicamente, a primeira escolha do draft tem 60% a mais de eficiência durante seu contrato inicial (4 a 5 anos) do que a sétima escolha. Contudo, o sucesso da primeira escolha na NFL é notoriamente difícil de se prever.

Rya Leaf

Outro exemplo ocorreu com o irmão de Eli, Peyton, que foi escolhido na primeira posição, mas na época havia muita especulação sobre outro jogador, Ryan Leaf, que se mostrava uma perspectiva melhor do que Peyton Manning.


Leaf foi escolhido pelos Chargers, na segunda escolha do draft de 1998, porém sua escolha foi espetacularmente mal sucedida, tendo deixado a liga apenas 4 anos após.


Diante desses exemplos o que se quer monstrar é que diante de uma combinação de fenômenos comportamentais bem documentados, todos os times trabalhando na mesma direção, cria um viés sistemático: as equipes superestimam sua capacidade de diferenciar estrelas e flops.


Com uma análise detalhada, descobrimos que o custo-benefício das escolhas durante a primeira rodada, na verdade, aumenta ao longo da rodada: os jogadores selecionados com a escolha final da primeira rodada, em média, produzem mais para sua equipe do que a primeira escolha, e custam por um quarto do preço!


A primeira escolha é valorizado tanto quanto o 10ª e 11ª escolhas somadas e tanto quanto a soma das últimas quatro escolhas da primeira rodada.


Entretanto, existem situação em que o preço alto pago pelo time não é tão prejudicial, diante das conquistas que o jogador poderá oferecer para o time no transcorrer da sua carreira. Os jogadores escolhidos na primeira rodada são mais propensos a ter sucesso (estar na lista, começar jogos, fazer o All Stars Game) do que os jogadores escolhidos nas rodadas posteriores.


As equipes da NFL enfrentam um desafio relacionado - fazer julgamentos sobre os jogadores enquanto acumula quantidades crescentes de informações sobre eles e o Draft se aproxima.


A maldição da primeira escolha ocorre quando as estimativas sobre o jogador são maiores do que deveriam, fazendo com que a franquia detentora da primeira escolha superestime o valor real do jogador a ser draftado.


Há ainda o efeito do falso consenso, em que a tendência da franquia em acreditar que os demais times também teriam interesse nos mesmos prospectos, influenciando consideravelmente as trades que ocorrem no dia do draft. O falso consenso sugere que as equipes irão superestimar até o ponto que as outras equipes desejem o mesmo jogador e, portanto, superestimem a importância da negociação para adquirir um determinado jogador. Esse viés aumentará o valor colocado para a escolha.


Juntos, esses preconceitos levam as equipes a supervalorizarem a seleção antecipada do jogador, acabando por superestimar sua capacidade de discernir entre o melhor no draft e o próximo melhor, e superestimar a chance de que se eles esperarem, o jogador que eles querem será escolhido por outra equipe.


Um exemplo da maldição de primeira escolha somada com o efeito do falso consenso foi a escolha do quarterback Mitchell Trubisky.

A 2ª escolha de primeiro round foi para o Draft de 2017 com uma nota 7 no Combine, tendo recebido uma análise geral como sendo um quarterback de alto nível, com braço forte e capacidade de passes dentro do pocket e em movimento. Contudo, a mesma análise concluiu que o jogador teria que se tornar muito mais consciente no pocket e fazer um trabalho melhor em reconhecer e atacar blitzes, bem como apresentava passes profundos inconsistentes, tendo que melhorar seu trabalho de pernas e tinha uma tendência à lançar bolas flutuantes ao invés de jogá-las fora quando pressionado.


Ainda que se argumente a participação de alguns jogadores no Pro Bowl, os dados são tendenciosos pois as seleções para o Pro Bowl são, em parte, um concurso de popularidade e os jogadores que foram boas escolhas na primeira rodada provavelmente terão maior reconhecimento de nome.


O custo de subir no draft é muito alto em termos de oportunidade das escolhas. As primeiras escolhas também são mais caras em termos de remuneração. Obviamente os donos das equipes preferem economizar ao máximo o dinheiro que sai da conta bancária dos times, assim como a NFL estipula regras de salary cap que limita o valor que pode ser pago aos jogadores.


Assim para se ter certeza que um prospecto foi um bom ou mau negócio deve-se considerar basicamente 2 vertentes:


Desempenho para a equipe - Salário recebido = Bom ou Mau Draft


Entretanto, outro argumento mais sutil que pode fazer com que um jogador seja relevante para a sua franquia, independentemente de seu desempenho em campo, é a sua utilidade para a equipe em si. Um exemplo que vem à mente é Michael Vick, que por ser um jogador emocionante em sua época, pôde ajudar a vender ingressos e itens de time, de uma forma que suas estatísticas de desempenho não refletiam na sua relevância para o time. Mas, poucos jogadores são capazes de atrair fãs sem desempenho bem-sucedido dentro da equipe.


Concluindo, mesmo os profissionais que são altamente qualificados e com conhecimento em sua área de especialização não são necessariamente especialistas em fazer bons julgamentos e decisões. E assim, os donos das franquias da NFL, ainda que munidos das forças de mercado, não são fortes o suficiente para superar algumas falhas, tendo em vista que a tarefa de escolher jogadores é extremamente difícil, pois as equipes devem primeiro fazer previsões sobre o desempenho futuro de jogadores jovens, e também julgamento sobre sua própria habilidade de previsão e escolha.


Por Daniela Germano


Fotos: Reprodução ProFootball









32 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page